Morava
comigo na igreja mais um IBURD, um tecladista e um pastor auxiliar da
igreja, o tecladista e o pastor dormiam em um quarto, com camas
confortáveis, que um dia me fora oferecido, mas recusei, a minha cama
era o altar, na época…ainda revestido com carpete vermelho, cheio de
ácaros, que me picavam a noite inteira…mas existe lugar melhor para
estar do que no altar?
Certo dia…o
pastor titular me chama para conversar, me convidou a adentrar uma sala,
coloca três cadeiras, uma de frente para duas…sentei-me em uma cadeira,
e o pastor da minha igreja sentou-se com outro pastor titular da região
nas outras cadeiras. Iniciou-se um interrogatório.
Na
conta telefônica da igreja, surgiu inúmeras ligações para o tele sexo,
para os mais novos, tele sexo é como se fosse um site que oferece sexo
virtual, mas…no caso do telefone, o sexo era verbal…isso era muito comum
antes de existir a internet, depois que surgiu a internet, eu nunca
mais ouvi falar disso.
Os pastores me
perguntavam se eu tinha efetuado essas ligações com o telefone da
igreja, eu fiquei completamente sem ação, pois nunca tinha ligado pra
isso, nem quando não era da igreja, e eu não seria estúpido o bastante
de fazer isso logo no telefone da igreja, mas…não adiantou eu negar, fui
muito pressionado, mas mesmo assim eu negava, pois mesmo em meio a
pressão dos pastores, eu não iria confessar algo que não tinha feito.
Logo
após me interrogarem, chamaram o outro obreiro que morava comigo na
igreja, fizeram a mesma coisa com ele, o pressionaram, e ele jurou que
não tinha feito isso, eu acredito…porque em toda a minha jornada
espiritual vi poucos homens de Deus como este rapaz.
Não
interrogaram o auxiliar…não interrogaram o tecladista…somente os dois
obreiros…resultado: fomos arrancados da obra…não nos colocaram no banco,
mas nos tiraram injustamente da obra, por algo que não tínhamos
cometido, e ainda por cima divulgaram o corrido para todos os membros,
jovens e evangelistas da igreja.
Foi
um verdadeiro inferno…olhos acusadores me perseguiam na igreja, todos
sequer me cumprimentavam depois desse fato, se afastaram, de homem de
Deus passei a endemoniado em dias…eu não agüentava isso, ser crucificado
por algo que se fez é comum, mas é muito duro…ser crucificado por algo
que não se fez.
Eu e este obreiro
estávamos sofrendo muito, muitas criticas, perseguições, agressões e
julgamento por parte da igreja que outrora nos respeitávamos como homens
de Deus que estavam sendo preparados para serem pastores.
Conversei
com este obreiro, confessei que não agüentava mais esta situação, e ele
sempre me orientava a ficar firme…a não desistir…mas não agüentei…sai
da igreja onde eu fazia a obra e passei a freqüentar outra IURD,
justamente para fugir dos meus acusadores.Foi um momento muito difícil
na minha vida, nessa época não me afastei…só mudei de igreja para ter
paz, mas o povo da minha igreja não sabia de fato se eu tinha me
desviado ou não ao perceberem a minha ausência, e mesmo assim, não
recebi a ligação de ninguém, não recebi a visita de ninguém, isso que me
deixou mais triste, mais angustiado.
Passei
a freqüentar na época a igreja do Brás, saia do meu trabalho, e muitas
vezes faltava no colégio a noite ( não aconselho a fazerem isso), para
ir a Igreja do Brás, que na época tinha duas reuniões na quarta feira de
noite, a das 18:00hs e das 20:00hs. Eu ia participar da reunião das
18:00hs, e ficava para a reunião das 20:00hs, isso mesmo eu ficava
buscando o Espírito Santo durante 4 horas, era como se fosse uma
vigília…mas era muito bom…saia da igreja pisando em nuvens.
Neste
período de injustiça, de deserto, de abandono, de choro, de angustia,
enfim, foi neste exato momento que tive a minha maior experiência com
Deus, foi neste período que tive uma maior comunhão com Deus, eu estava
passando um verdadeiro inferno, mas estava no paraíso espiritualmente
falando. Eu cresci muito. Eu desenvolvi a minha comunhão com Deus nesse
período de inferno.
Ao ir a igreja,
eu via os obreiros, meu coração pegava fogo, se ascendia uma verdadeira
chama em mim, pois eu não estava como obreiro, porque me arrancaram, mas
eu era um obreiro, eu tinha este chamado de Deus…e Deus me “perturbava”
muito, sempre me chamando de volta.
Até
que um dia, conversando com um colega de obra, ele me orientou a voltar
para a igreja onde eu tinha perdido o meu uniforme, e a batalhar, a
lutar, a guerrear espiritualmente falando, e a reconquistar o meu
uniforme, achei este conselho absurdo, pois não estava nos meus planos
voltar justamente para aquela igreja, muito pelo contrário, eu queria
distancia daquilo tudo, quando eu disse isso para o obreiro, ele disse
que eu tinha que me humilhar, que assim que eu me humilhasse…Deus me
exaltaria.
Depois deste conselho
resolvi voltar para a igreja onde eu tinha perdido o meu uniforme, assim
que eu coloquei o meu primeiro pé na igreja, todos os olhos vieram para
a minha direção, e enfrentei toda aquela situação de novo, julgamentos,
acusações, desprezo, maus olhos, foi um verdadeiro inferno. O obreiro
que foi afastado juntamente comigo, coincidentemente voltou para a obra
justamente no dia em que voltei para a igreja, ao todo fiquei afastado
da igreja onde eu perdi o uniforme durante três meses.
Bom..iniciei
a minha guerra, evangelizando, lavando a igreja, trabalhando e
agüentando o desprezo e a acusação da igreja, mas dentro de mim…uma
alegria imensurável, estava cheio da presença de Deus, mesmo em meio a
perseguições dentro da igreja, com jovens e evangelistas onde outrora
eram liderados por mim, agora me humilhavam, me viam como um verdadeiro
perturbado.
Mas não tem problema,
fiquei nessa situação três meses, foram os tempos mais difíceis mas ao
mesmo tempo de maior comunhão com Deus, até que um dia, o pastor estava
realizando a reunião da família na quinta feira, e quando me viu no
fundo da igreja, deixou o auxiliar orando, e veio ao meu encontro no
fundo da igreja e me disse: “Você está de volta na obra, amanhã quero
ver você de uniforme”……e depois disso voltou pro altar para fazer a
reunião…Meu Deus….fui honrado, um gozo invadiu o meu coração naquele
momento.
Me contive, não falei isso
pra ninguém, no dia seguinte, cortei o meu cabelo, e tirei do armário o
meu uniforme…cheguei na reunião praticamente na metade, e entrei na
igreja com uniforme, todas as pessoas evangelistas, obreiros, jovens e
membros olharam para mim naquele momento, alguns com ares de espanto, e
outros com sorriso, no rosto.
Depois
da reunião muitos me vieram dar os parabéns, uns sinceros outros não,
mas como eu tinha apanhado muito..eu sabia quem era..e quem não era
sincero comigo, antes humilhado por aquele povo sendo julgado como um
perturbado e endemoniado, agora sendo exaltado por aquelas mesmas
pessoas como um Homem de Deus.
Meu
amigo e minha amiga, se você está sendo humilhado(a), perseguido(a),
injustiçado(a), não se preocupe, mas regozije-se pois Deus está
permitindo que isso ocorra para o seu crescimento espiritual, Deus está
permitindo que você passe por este deserto para que você venha
conhecê-Lo, para conquistar coisas muito maiores.
Saiba
que podemos passar pela maior injustiça, mas o maior injustiçado de
todos os tempos foi o nosso Senhor, que veio a este mundo para salvar, e
foi crucificado, meu amigo, não se afaste em meio as lutas, não
desanime em meio as injustiças, mas se fortaleça no Senhor Jesus, e
passe por este deserto com a força do Espírito Santo.
Nesse ultimo parágrafo vou escrever o destino de todos os envolvidos na história:
- Igreja:
Depois que voltei para a obra fiquei mais dois meses na igreja, depois
pedi a carta para outra IURD, o pastor me deu a carta a muito contra
gosto, pois não queria que eu saísse da Igreja. A igreja como era de
bairro foi fechada um ano depois, e todos os obreiros e membros foram
divididos nas igrejas e sedes mais próximas.
- Obreiro que foi afastado comigo:
Até hoje é obreiro, passou-se 12 anos deste ocorrido e o sujeito está
firme, este sujeito ficou firme na obra este tempo todo, hoje ele é
casado e responsável pelo grupo de evangelização da sua igreja.
- Um dos pastores que me interrogaram: Não tive mais noticias…
- Tecladista que morava comigo na igreja e não foi se quer interrogado:
Saiu da Igreja, e começou a usar maconha, os obreiros iam evangelizar
ele, e ele não dava ouvidos a ninguém, sabe Deus como está hoje.
- Auxiliar que morava comigo na igreja:
Alguns anos o encontrei na catedral em uma reunião de pastores, nunca
mais tive noticias, torço para que esteja no altar arrebentando.
- Pastor Titular que me tirou da obra:
Eu vi ele anos mais tarde na catedral, mas…hoje não é mais pastor, não
sei o motivo da sua saída, mas tempos atrás esteve pedindo oração para
uma das obreiras que fazia a obra comigo naquela época, a obreira disse
que ele perguntou de mim, e me mandou um abraço.
Que o Senhor Jesus abençoe a todos os leitores deste blog.
Obr. Carlos Alberto
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